A Covid-19 impôs mudanças a todas as esferas da vida cotidiana, mas poucas sofreram impactos tão profundos quanto a da saúde. De uma hora para outra, com a ruptura dos modelos tradicionais de cuidado, todos os players do setor se viram diante de novos desafios.
Agora, ao que tudo indica, o Brasil caminha para a retomada de uma certa normalidade pré-pandemia. Nos hospitais e clínicas, tratamentos e cirurgias eletivas voltam a ser marcados. Nas farmácias, há aumento nas vendas de remédios para doenças crônicas.
Nada, porém, será como antes. O Sars-CoV-2 acelerou a transformação digital. Antigo pleito e autorizada em caráter emergencial, a telemedicina se disseminou. A regulamentação definitiva da prática é hoje tema de um projeto de lei, a ser votado na Câmara dos Deputados.
Da crise emerge também um novo tipo de consumidor. Mais consciente, exigente e à vontade com tecnologias, ele se coloca agora como agente de sua própria saúde —um "codesigner de seus cuidados", como definem analistas da consultoria global KPMG.
FARMÁCIA: DROGARIA SÃO PAULO
Farmácias se consolidam como hubs de saúde
Acelerada pelo novo coronavírus, a farmácia do futuro já é. Para muito além da venda de remédios e produtos de higiene e beleza, funciona hoje como "um hub de saúde", como define Sergio Mena Barreto, CEO da Abrafarma, associação do setor.
A prova de fogo aconteceu durante a crise sanitária. Um desafio do qual o setor sai transformado —tecnologicamente mais avançado e alinhado com os anseios de um consumidor consciente sobre o autocuidado.
Como centros de promoção de saúde, as farmácias podem atuar em três frentes: identificação de riscos para doenças, prevenção e aconselhamento, de modo a aumentar a adesão dos pacientes aos tratamentos. Entre os brasileiros adultos, 54% abandonam cuidados depois de seis meses de prescrição.
Eleita pela oitava vez consecutiva a melhor farmácia pelos paulistanos, a Drogaria São Paulo já caminhava nessa direção quando a pandemia chegou. "Ela acelerou nossas metas em dois ou três anos", conta Jonas Laurindvicius, CEO do Grupo DPSP. Um dos movimentos dessa transformação aconteceu há dois meses, com a compra da startup pernambucana TISaúde.
O projeto é criar um superapp para acompanhar o cliente em toda a sua jornada de saúde. A ser lançada ainda no primeiro semestre, a plataforma oferecerá informações sobre prevenção e teleconsultas. "Nossa proposta é democratizar a saúde", afirma Laurindvicius. "No Brasil, apenas 10% da população tem acesso a assistência privada."
Tudo isso foi possível graças à transformação digital. Desde os primeiros casos de Covid-19, o ecommerce da Drogaria São Paulo cresceu 400%. Antes, essas vendas representavam 1,5% da receita; hoje, respondem por 9%. "Iniciativas assim fidelizam o cliente", diz o executivo. Em 2022, a rede deve investir R$ 315 milhões em tecnologia.
DROGARIA SÃO PAULO
34% das menções
Fundação
1943
Unidades
1.400
Funcionários
26 mil, sendo 5.000 farmacêuticos
Faturamento
R$ 12 bilhões (2021)
Crescimento
13% (2021)
Nossa essência é a confiabilidade e o interesse no paciente. Queremos acompanhá-lo em toda a sua jornada. Nossa drogaria foi fundada por um farmacêutico [Thomaz Carvalho], e nossos farmacêuticos são muito bem preparados. Todo o mundo fala em bem-estar e saúde, mas a gente pratica
HOSPITAL: ALBERT EINSTEIN
Hospitais voltam à rotina após dois anos caóticos
Desafios e celebrações marcaram 2021 no Albert Einstein, campeão entre os hospitais na pesquisa Datafolha pela oitava vez consecutiva.
Se, por um lado, a pandemia colocou pressão máxima sobre os serviços, por outro, a instituição paulista manteve seu planejamento estratégico e ampliou a participação na rede pública.
A crise sanitária não impediu as negociações para que o Einstein assumisse a gestão do Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (GO). Em maio, o Centro Oncológico Bruno Covas deve ser inaugurado.
Para seguir com esses planos em 2021, a experiência adquirida no enfrentamento ao vírus em 2020 foi fundamental. Sozinha, porém, ela não explica a eficiência da entidade.
Não fosse o pioneirismo do centro de telemedicina, inaugurado em 2012, seria quase impossível aumentar a capacidade de atendimento diário de 80 para 600 consultas, como aconteceu no primeiro mês de combate à Covid. Algoritmos deram origem a um programa que, a partir de dados da telessaúde, fazem a projeção de ocupação do hospital com até 15 dias de antecedência.
Do instituto de pesquisa, criado em 1998, saíram os primeiros estudos que comprovaram a ineficácia de remédios contra o vírus. Os trabalhos foram publicados em veículos científicos como o The New England Journal of Medicine e o Lancet.
Passado o período mais severo da pandemia, pacientes que haviam adiado seus tratamentos e cirurgias eletivas estão retornando ao Einstein, em um movimento que se repete país afora. De acordo com o relatório Observatório 2022, da Associação Nacional dos Hospitais Privados, há uma retomada nas taxas de ocupação das instituições, agora semelhantes ao pré-Covid. Nos 134 hospitais filiados à entidade, o índice, em média, é de 75,3%.
ALBERT EINSTEIN
22% das menções
Fundação
1971
Unidades
2 hospitais (São Paulo e Goiânia)
Funcionários
18.263
Faturamento
Não divulga
Crescimento
Não divulga
"Desde a fundação, o Einstein tem na sua missão a excelência da assistência à saúde, a geração de conhecimento e capacitação de pessoas, a pesquisa e a inovação —e, principalmente, a responsabilidade social. Tudo que implementamos procuramos escalar de forma a atingir a saúde pública. A excelência está em uma obsessão por fazer mais e melhor."
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS: FLEURY E LAVOISIER
Crise acelera novas apostas dos laboratórios
A transformação digital aconteceu, mas a pandemia vem mostrando ao Fleury que o grupo está no caminho certo ao apostar em outra, a de conceito. A empresa busca ser mais que um laboratório de análises clínicas e exames de imagem: quer se firmar como centro de cuidado integrado e produtor de conhecimento médico.
"Já fazíamos isso na medicina diagnóstica, com médicos de 37 especialidades sob o mesmo teto", diz Edgar Rizzatti, diretor-executivo médico, técnico e de negócios B2B (voltados a outras empresas) do Grupo Fleury. "Agora queremos ampliar nossa atuação em diferentes linhas de cuidados ambulatoriais."
Nesse sentido, o Fleury já tem um centro de infusão de medicamentos, ortopedia, oftalmologia, cirurgia para casos que não requerem internação e medicina reprodutiva. Em 2021, investiu R$ 21 milhões em pesquisa e desenvolvimento. Durante a crise, criou um repositório de dados para pesquisadores.
Melhorar a jornada do paciente também é o foco do Lavoisier, empresa do Grupo Dasa, que divide com o Fleury o título de melhor laboratório de análises clínicas na pesquisa O Melhor de sãopaulo. Inovações aceleradas pela pandemia têm sido fundamentais: o atendimento móvel cresceu e o web check-in reduziu em até 50% o tempo de permanência de clientes nas unidades.
"Queremos usar a tecnologia para melhorar processos e sistemas", diz Aline Amália Lopes de Araújo Giovannetti, diretora regional de diagnósticos da Dasa.
Outro legado do Sars-CoV-2 foi a atenção redobrada ao gap de rastreio. Analisando sua base de dados, o Lavoisier fez um levantamento de mulheres com mamografias atrasadas e entrou em contato para alertá-las sobre a importância de manter o check-up em dia. A ideia é estender esse cuidado a outras áreas.
FLEURY
19% das menções
Fundação
1926
Unidades
280 (incluindo marcas regionais)
Funcionários
15 mil
Faturamento
R$ 4,2 bilhões (2021)
Crescimento
30,1% (2021)
"Por nossa forte conexão com a inovação, almejamos ser reconhecidos como uma organização do conhecimento médico. Praticar uma medicina de classe mundial no Brasil faz muita diferença."
LAVOISIER
18% das menções
Fundação
1951
Unidades
89
Funcionários
2.338
Faturamento
Não divulga
Crescimento
Não divulga
"O Lavoisier é um laboratório que aproxima a excelência diagnóstica do dia a dia da família de todo paulistano. O atendimento acolhedor, somado à qualidade dos serviços, gera confiança."
MATERNIDADE: SANTA JOANA
Maternidade foca apoio antes e depois do parto
Eleita a melhor da categoria pela oitava vez, a Santa Joana também sai da pandemia transformada. "O desenvolvimento de produtos digitais foi impactante", diz Marco Antônio Zaccarelli, diretor comercial do Grupo Santa Joana, que detém ainda a Pro Matre e a Santa Maria.
As ferramentas desenvolvidas para o enfrentamento da Covid estão incorporadas ao dia a dia da maternidade. Mais do que isso, o tour virtual, o ecommerce para compra de planos particulares e a telemedicina como complemento ao pré-natal serviram de inspiração para a criação de serviços digitais mais robustos.
Um deles é o Conexão Materna, plataforma educacional com 17 cursos, que cobrem do momento em que a mulher engravida até o terceiro ano de vida da criança. Há muito material disponível sobre o assunto, reconhecem as lideranças da Santa Joana, mas não necessariamente informações de qualidade. "Queremos cuidar da jornada inteira da paciente", diz Zaccarelli.
Se a pandemia revelou as facilidades proporcionadas pelas tecnologias de atendimento a distância, por outro lado reforçou a importância do cuidado presencial. Com esse propósito, já foram inauguradas três unidades de pré-natal em diferentes regiões da capital: no centro, na zona sul e na zona leste. A ideia é ampliar a rede neste ano.
"Em uma cidade do tamanho e com os problemas de transporte de São Paulo, estar próximo da paciente é de muito valor para ela", afirma o executivo do grupo.
SANTA JOANA
19% das menções
Fundação
1948
Unidades
1 maternidade e 7 unidades de atendimento
Funcionários
2.030
Faturamento
Não divulga
Crescimento
Não divulga
"Somos um hospital construído e dirigido por médicos. Não se economiza em tecnologia e recursos humanos."
SEGURO-SAÚDE: BRADESCO SAÚDE
Bradesco tem serviço contra sequelas da Covid
Melhor seguro-saúde na opinião dos paulistanos ouvidos pelo Datafolha, a Bradesco Saúde mantém ensinamentos adquiridos na crise.
"A empresa dará continuidade ao processo de transformação digital, para garantir uma experiência cada vez mais conveniente e ágil a seus 3,8 milhões de beneficiários", diz o diretor-gerente Flavio Bitter.
No início da pandemia, a Bradesco Saúde disponibilizou um hotsite sobre o novo coronavírus, com informações que facilitam o atendimento do beneficiário. Entre os temas mais recentes estão a cartilha sobre a síndrome pós-Covid e uma lista dos hospitais e clínicas dedicados ao tratamento dessas sequelas. Até hoje, a plataforma já registrou 1,5 milhão de acessos.
Das 27 clínicas da rede Meu Doutor Novamed, que pertence ao Bradesco Seguros, 12 foram inauguradas durante a pandemia. Com foco em atenção primária, elas oferecem consultas eletivas, atendimentos sem necessidade de agendamento e telemedicina, além de exames e cirurgias ambulatoriais.
"O histórico clínico é disponibilizado pelo prontuário eletrônico integrado, oferecendo qualidade e segurança ao paciente", conta Bitter.
Recentemente, a seguradora lançou o programa Pós-Covid-19 para pacientes com sequelas da doença. Por enquanto, o atendimento é realizado em três unidades de São Paulo. Esse tipo de iniciativa, segundo Bitter, ajudou a ampliar a base de segurados, que cresceu 5,3% no território paulista em 2021.
BRADESCO SAÚDE
17% das menções
Fundação
1984
Unidades
Sede no Rio e 150 dependências
Funcionários
Cerca de 2.200
Faturamento
R$ 28,3 bilhões em 2021 (junto com a Mediservice)
Crescimento
6,7% em faturamento (2021)
Ficar em primeiro na pesquisa é uma honra. Esse reconhecimento reforça nossa missão de atender os beneficiários plenamente
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