Descrição de chapéu Descubra sãopaulo 2020

Roteiro por templos resume a diversidade religiosa de São Paulo

Imigrantes e descendentes mantêm vivos a religião e o idioma de seus países na cidade

Monges de amarelo em altar de templo com muita madeira e dourado

Ofício (cerimônia budista) no templo Honpa Hongwanji, na Chácara Inglesa, zona sul de São Paulo Keiny Andrade/Folhapress

São Paulo

Em templos de São Paulo, dá para rezar o pai-nosso em inglês, repetir mantras em japonês, fazer preces em armênio e orar cinco vezes ao dia em árabe. 

Só na igreja Nossa Senhora da Paz, na Liberdade (região central), há missas em cinco línguas. O lugar foi fundado na década de 1940 pela ordem italiana dos escalabrinianos, ligada à causa da migração. 

Os missionários já estavam no país desde o final do século 19, conta o padre Paolo Parise, 53, que nasceu na Itália e é pároco da igreja desde 2010. A escolha da santa padroeira é uma referência às guerras que trouxeram os italianos para São Paulo.

Até os anos 1970, a principal comunidade que frequentava a igreja ainda era composta por descendentes do país europeu, e as missas eram realizadas em italiano. 

A partir da década de 1970, imigrantes da Coreia do Sul, do Chile e do Vietnã foram absorvidos pela paróquia.

Hoje, segundo Parise, a igreja tem fiéis italianos, filipinos, haitianos, bolivianos, chilenos, paraguaios, peruanos, equatorianos e colombianos —além dos brasileiros. No mesmo espaço, há três paróquias: a regional, com missas em português, a italiana e a hispânica.

Aos domingos, há três missas em português e uma celebração em outro idioma. No primeiro domingo do mês é a vez do italiano; no segundo, do francês; no terceiro, do inglês e, no quarto, do espanhol. As comunidades hispânicas se revezam no comando da celebração.

A ordem dos escalabrinianos mantém também a Missão Paz, com um centro de acolhida para imigrantes de várias religiões.

A mistura de comunidades nem sempre é pacífica. "Houve momentos difíceis, porque as pessoas viam a igreja como sendo delas e depois tinham que dividi-la com pessoas novas", afirma Parise. 

Mas isso não impediu que todos atuassem juntos quando houve a crise de imigração haitiana ao país, de 2014 a 2015, conta. "Foi interessante ver essa abertura no momento da necessidade." 

Segundo o padre, a possibilidade de rezar em seu próprio idioma recupera um vínculo de cada imigrante com seu país. A oportunidade de formar uma comunidade com outras pessoas de mesma origem também atrai os fiéis. "Tem gente que não participava das missas na sua terra natal, mas começou a frequentar aqui", diz.

Perto dali, no Bom Retiro, a Igreja Apostólica Armênia de São Jorge é ponto de encontro para os descendentes de imigrantes do país. Erguido em 1948, o templo, cinza por fora, pode passar despercebido por quem trafega pela avenida Santos Dumont. É por dentro que a construção impressiona, com cenas bíblicas pintadas no teto, vitrais coloridos e paredes adornadas. 

As missas, sempre aos domingos, às 10h30, são rezadas em grabar, a forma clássica do armênio, usada desde o ano 405. 

De acordo com a secretária executiva da igreja, Margarit Vratsyan Agopian, 33, que veio da Armênia para o Brasil em 2013, menos da metade dos descendentes armênios dominam a língua do país. 

Quem não entende o idioma, porém, também consegue participar da celebração, já que há livros e folhetos com as orações em português disponíveis nos bancos.

A fé em São Jorge leva fiéis de outras religiões ao local, conta Agopian. "Eles ficam surpresos quando descobrem que não é uma igreja católica", afirma. Os visitantes chegam principalmente no dia do santo, comemorado em 23 de abril na tradição católica. 

De acordo com a secretária, eles são bem-vindos, mas não é realizada uma celebração especial para o santo nesse dia. Na religião armênia, o dia de São Jorge é comemorado no último sábado de setembro. 

Os brasileiros também são bem-vindos nas celebrações do templo budista Honpa Hongwanji, chamadas de ofícios. O local, que em 2019 completou 60 anos, fica na Chácara Inglesa, zona sul de São Paulo.

Boa parte dos ofícios, porém, não são em português. Como explica o monge superior Mário Kajiwara, 48, a maioria dos frequentadores do local são descendentes de japoneses e ainda há muitos idosos que vieram do país asiático. 

Outro motivo para as celebrações serem em japonês vem dos próprios monges: poucos sabem português ou se sentem confortáveis em celebrar na língua. Ele, que é neto de imigrantes e fez sua formação religiosa no Japão, celebra nos dois idiomas.

Segundo Kajiwara, o idioma usado depende também do público do dia. Caso predominem os fiéis japoneses, maioria durante a semana, utiliza-se o idioma oriental. No ofício dos domingos, quando há maiores chances de ter visitantes, há um esforço para se celebrar em português. 

Ele explica que a procura dos descendentes de japoneses pelo budismo, principalmente nas gerações mais novas, vem caindo, enquanto a dos não descendentes está aumentando. Por isso, a sua federação, Terra Pura —vertente do budismo que tem 35 templos na América Latina—, tenta hoje formar mais monges brasileiros.

Mostrar a religião aos paulistanos também é o objetivo de um grupo com cerca de 30 senegaleses fiéis do muridismo, vertente do islã. Toda segunda-feira à noite, eles se reúnem na praça da República, no centro, para rezar, dançar e entoar cantos. 

As músicas e orações são feitas em árabe e em wolof, idioma que, além do francês, é falado no país africano. 

Segundo Ibrahima Seck, 29, o evento às segundas também é uma maneira de unir a própria comunidade senegalesa. "Tem gente que veio de outras cidades para morar em São Paulo por causa desse grupo", afirma. 

Qualquer pessoa é bem-vinda para acompanhar a celebração na praça. Nos outros dias da semana, os senegaleses se reúnem em mesquitas do centro. 

Catedral  Apostólica Armênia de São Jorge
Missas aos domingos, às 10h30. As orações são feitas em armênio clássico, mas há livros em português para acompanhar os ritos.

Av. Santos Dumont, 55, Bom Retiro, tel. 3227-0869. Seg. a sex.: 9h às 15h30. Sáb.: das 10h às 13h.

Paróquia Pessoal Coreana São Kim Degun
Missas em coreano às  7h na segunda e às 19h  na terça. De quarta a sábado há celebrações no idioma às 7h e 19h; aos domingos, às 7h e 9h. Missa em português, na capela da igreja, aos domingos, às 10h30.

R. Nair de Teffé, 147, Bom Retiro, tel. 2128-0401.

Igreja Nossa Senhora da Paz
Missas em português de segunda a domingo, às 19h. Aos domingos, também há celebrações às 8h e 9h30. Há missas em italiano no primeiro domingo de cada mês, em francês no segundo e em inglês no terceiro,  às 11h. No quarto domingo é em espanhol, às 12h. 

R. do Glicério, 225, Liberdade,  tel. 3209-5388. Seg. a sex.: das 9h às 12h e das 13h30 às 17h30. Sáb.: das 10h30 às 12h.

Catedral Metropolitana Ortodoxa
Missas somente aos domingos, às 10h15, em português. Algumas orações são feitas em árabe.

R. Vergueiro, 1.515, Paraíso, tel. 5907-8610. Seg. a sex.: das 9h às 13h e das 15h às 18h. Sáb.: das 10h às 13h.

Templo Honpa Hongwanji
Ofícios todos os dias, às 7h, e também às 16h30, de segunda a sexta, geralmente em japonês. Aos domingos, o ofício é celebrado por monges que falam português.

R. Changua, 108, Chácara Inglesa, tel. 2275-8677. Aberto todos os dias, das 8h30 às 18h.

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