Imigrantes africanos trazem para São Paulo um mundo de passos, saltos, ondulações de ombros e quadris ao som ritmado da percussão. Em uma série de cursos, oficinas e aulas avulsas, ensinam desde coreografias tradicionais até a dança negra contemporânea, passando pelas chamadas afro-brasileiras.
“Desde muito criança, aprendi a dançar com minha mãe, e ela foi ensinada por minha avó, que aprendeu com minha tataravó”, conta Mariama Camara, 40.
Na República da Guiné, onde nasceu e cresceu, Mariama integrou grupos de dança profissional e rodou o mundo se apresentando e aprendendo ritmos de países vizinhos.
Aqui em São Paulo, ela ensina, além da dança tradicional guineense, um pouco dessas outras danças.
Sim, são várias, apesar de parecerem “tudo a mesma coisa” para os leigos. “Uma das belezas das danças africanas é a diversidade de etnias, culturas e rituais que cada uma representa”, diz Celina Fernandes, 53.
Brasileira, Celina é casada com o bailarino guineense Facinet Touré, 31. No segundo semestre do ano passado, o casal veio morar em São Paulo. Com a dança “raiz”, aquela que surge nas aldeias, ainda fresca em seu corpo, Facinet ensina coreografias e ritmos tradicionais para profissionais e amadores.
Algo que une as diferentes vertentes é a presença da percussão, quase sempre com músicos ao vivo. Na África, a música é parte indissociável da dança, seja numa festa na aldeia, seja numa apresentação ou numa aula.
Por isso também é comum os cursos serem compostos por duas partes: primeiro, uma aula de percussão; depois, de dança.
Nas aulas da sul-africana Nduduzo Siba, 31, primeiro os alunos batem palmas, depois aprendem a cantar uma música tradicional do povo zulu e só então começam a dançar.
Foi a partir da música que a coreógrafa Flávia Manzal, 40, se aproximou da dança —ela teve um namorado que tocava djembe, instrumento tradicional da música africana. Com a sua morte, em 2001, Flávia começou a dançar para superar o luto.
Acabou indo para o oeste africano, onde estudou com um mestre local. De volta a São Paulo, formou uma companhia profissional e passou a dar aulas.
Além das tradicionais, há também vários cursos de danças de matrizes africanas, como as afro-brasileiras. No Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá, as bailarinas baianas Priscila Borges, 40, e Tainara Cerqueira, 32, dão aulas regulares dessa vertente.
Já a Ilú Obá de Min, associação de educação, cultura e arte negra, promove oficinas de danças dos orixás e afro-brasileiras.
Com pegada contemporânea e como política de resistência, a companhia Treme Terra mantém cursos de dança negra contemporânea. Ali também o balanço sempre vem junto com as aulas de percussão.
“Nas artes negras, tudo é integrado: não existe dança se não tiver junto música, política, roupas, cores”, explica João Nascimento, 36, diretor da companhia.
Onde aprender
Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá
Aulas às terças, das 15h às 17h. Grátis.
R. Arsênio Tavolieri, 45, Jabaquara, tel. 5011-2421.
Facinet Tourré
Aulas de percussão e danças da Guiné às terças, das 19h às 22h; R$ 160 (mensal) e R$ 50 (aula avulsa).
Teatro Studio Heleny Guariba - Pça. Roosevelt, 184, Consolação, tel. 99145-9930.
Flávia Manzal
Aulas às terças, das 19h30 às 21h; R$ 150/mês.
Centro Cultural do Butantã - Av. Corifeu de Azevedo Marques, 1.880/1.882, Jd. Rizzo, tel. 98100-5365.
Ilú Obá de Min
Programação no site iluobademin.com.br.
R. Anhaia, 37, Bom Retiro, tel. 3222-5566.
Mariama Camara
Aulas às quartas, das 18h às 19h30 (percussão) e das 19h30 às 21h (dança). R$ 150/mês.
Ação Educativa - R. General Jardim, 660, Vila Buarque, tel. 3151-2333.
Nduduzo Siba
A bailarina sul-africana dá aulas avulsas
e oficinas em centros culturais, sem programação fixa. Os eventos são anunciados em facebook.com/nduduzo.mckenzie.
Treme Treme - Afrobase
Programação dos cursos no site nacao.org.br a partir de fevereiro.
R. Sebastião Martins, 698, comunidade do Pinheirinho, Rio Pequeno, tel. 2539-3555.
Outras danças do mundo
Danças gregas
Aulas às terças, das 19h30 às 21h30; R$ 150/mês.
Areté Centro de Estudos Helênicos - R. dos Macunis, 495, Vila Madalena, tel. 3032-3939.
Projeto Fábrica do Movimento
Aulas aos sábados, das 17h às 18h. 1º/2, Deca Madureira (danças do Recife); 8/2, Facinet Touré (danças da Guiné); 15/2, Humberto Siles (danças do Caribe); e 25/2, Mohammad Al Jamal (danças do Líbano). Grátis.
Sesc Pompeia - R. Clélia, 93, Água Branca, tel. 3871-7700.
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