Descrição de chapéu Humor Cenários 2019-2020

Este foi um ano para rir de teimoso, rir de nervoso e perder a vontade de rir

A primeira reação é dar uma gargalhada, mas aí a gente se dá conta de que não é uma piada

Claudia Tajes

Foi um ano para rir de teimoso. Para rir de nervoso. Para perder a vontade de rir.

No início pareceu que seria engraçado, aquela mistura de arminha com Jesus na goiabeira e três pimpolhos na carona do papai —um deles literalmente grudado no Rolls-Royce da posse. A impressão era a de que os chargistas iam se lavar, as piadas viriam fartas como os disparates dos olavistas.

Ilustração Revista Cenários
Catarina Pignato

Pois sim. A graça se foi junto com direitos, leis, incentivos. Com as grosserias, as ameaças, as retaliações, as vinganças e as suspeitas. Só que eles não contavam com a nossa astúcia. Brasileiro da gema não desiste nunca. E assim, no apagar das luzes, ainda dá para rir de algumas cenas. Sempre com uma lágrima inconveniente querendo cair.

Um presidente dizendo “I love you” para o outro. Talvez um “Nice to see you again” fosse mais adequado, mas existe algo adequado nesses dias? Depois, a política é feita de atitudes corajosas para baixar taxas e favorecer nossos produtos. Ops, não favoreceu?

Vídeos no YouTube para matar o Porta dos Fundos de inveja. Terra plana, rosa e azul, nióbio, ofensas, comunismo, satanismo, aborto, Beatles, perrengue de R$ 33 mil, se alguém editar os despautérios todos, o Brasil volta com mais um Emmy Internacional. Só que de drama.

Mas talvez a imagem mais hilariantemente triste, ou engraçadamente trágica, ou ridiculamente calamitosa, seja a de mulheres e homens marchando contra o STF de figurino verde e amarelo, todos fazendo continência e cantando o Hino do Soldado na direção de uma Estátua da Liberdade muquirana, tudo isso para reverenciar o véio da Havan.

A primeira reação é dar uma gargalhada, mandar pelo WhatsApp, compartilhar no Facebook, essas coisas que se faz quando a piada é boa. Mas aí a gente se dá conta de que não é uma piada. Muito menos boa. 

A ficha cai e, junto com ela, uma lágrima.

Para não comprar briga de novo com os parentes de sempre, melhor dizer que fim de ano é assim mesmo. Os mais sensíveis ficam muito emotivos.

Claudia Tajes é colunista

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