Habemus oposição.
A expressão que apresenta ao mundo um novo papa poderia ter sido adaptada para resumir a sensação no mundo político com a saída de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da prisão, em 8 de novembro.
O petista não perdeu tempo em jogar combustível no já polarizado ambiente do país, com discursos fortes contra o governo de Jair Bolsonaro e a Lava Jato, que deram a senha do que deve ser 2020.
Depois de três anos de sucessivas derrotas, a esquerda voltou a ter na figura do ex-presidente alguém que possa brigar de igual para igual com a máquina do bolsonarismo.
O presidente e seu antecessor devem se consolidar como figuras centrais de um ano ainda mais radicalizado, deixando restrito o caminho para o centro e a moderação.
A possibilidade de que o ambiente político esfrie é ainda mais remota tendo em vista que são razoáveis as chances de Bolsonaro e Lula se fortalecerem nos próximos meses.
O ex-presidente conta com maré a favor no Supremo para desfazer, ou ao menos amenizar, as condenações que sofreu.
Sairá por cima caso a corte decrete a suspeição do ex-juiz Sergio Moro na condução da Lava Jato, em razão de seu comportamento registrado nos áudios vazados da operação. Pode ser beneficiado também pelo novo entendimento de que réus devem se manifestar nos autos após delatores, o que mudaria a condenação no caso do sítio de Atibaia.
O petista aposta ainda que a eventual decisão do Congresso de aprovar a prisão após condenação em segunda instância não retroagirá para encarcerá-lo novamente.
Nesse cenário, pode passar o ano inteiro livre para percorrer o país denunciando Bolsonaro e sua política econômica liberal.
O presidente, por sua vez, tem como trunfo os sinais cada vez mais evidentes de que alguma retomada econômica está em curso, o que consolidaria sua posição política a despeito das investidas diárias contra a imprensa, os demais Poderes e qualquer forma de oposição.
Uma possível nuvem política no caminho de Bolsonaro é o racha na direita, que tem provocado cenas constrangedoras e pode sair de controle.
Seu projeto de partido, a Aliança Pelo Brasil, corre para estar oficializado a tempo da disputa municipal, mas isso é improvável. O resultado é que Bolsonaro poderá ter papel menor do que gostaria na eleição, dispersando seu apoio entre diferentes legendas.
Espremidas entre os dois polos, figuras que apostam numa terceira via terão o desafio de se firmar desde já, com vistas a 2022.
Nomes como Luciano Huck, João Doria, Joaquim Barbosa e Ciro Gomes não terão vida fácil no ano que vem, para serem ouvidos em meio à gritaria. *
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