Descrição de chapéu Fim de ano

No trem de luxo para Machu Picchu, o passageiro não viaja: flutua

Já na estação da partida é servido o primeiro drinque do dia, às nove da manhã

Cusco

Dá para chegar a Machu Picchu, a cidade perdida dos incas no Peru, pagando US$ 100 (R$ 419) nos trens da Peru Rail ou da Inca Rail. Mas, se dinheiro não for um problema, você pode pagar dez vezes mais e curtir uma viagem luxuosa de ida e volta.

O trem Hiram Bingham, que vai de Cusco a Aguas Calientes
O trem Hiram Bingham, que vai de Cusco a Aguas Calientes - Divulgação

É essa a proposta do trem Hiram Bingham, da cadeia hoteleira Belmond, que tem também um hotel no alto de Machu Picchu e dois em Cusco, cidade de onde parte o transporte ferroviário. No Brasil, a Belmond conta com o famoso Copacabana Palace, no Rio, e com outro hotel nas Cataratas do Iguaçu.

O Hiram Bingham —nome emprestado do explorador havaiano que revelou Machu Picchu ao resto do mundo, em 1911— existe desde 2003.

Neste 2019, foi escolhido o quinto melhor trem de luxo do mundo pelos leitores da revista Condé Nast Traveler. Acaba, aliás, de ser relançado com nova paginação, pinturas, pratos e drinques. O repórter esteve na viagem inaugural, em 22 de outubro.

A labuta começa cedo. O horário de partida é 9h05, mas pode atrasar uns minutos já que, ao chegar à estação Poroy, nos arredores de Cusco, te enfiam na mão o primeiro drinque do dia, com prosecco, damasco e a frutinha physalis. Dançarinos reverenciam o deus sol, queimam folhas de coca e você já está flutuando quando sobe ao trem.

Lá dentro, pode-se sentar nas banquetas de um dos dois bares ou nos sofás dos vagões-restaurantes, que são todos os outros.

Não há lugares como num trem normal, senta-se à mesa com toalhas e taças, como num restaurante chique. Tudo o que você comer ou beber está incluído no preço, com exceção de um ou dois vinhos trilhardários.

O trem é bem fofo, no estilo anos 1920, todo de madeira e estofado. A viagem dura cerca de três horas e, se há uma crítica ao Hiram Bingham, é que ele balança bastante. É preciso ir se apoiando para caminhar.

O menu de drinques especiais, servidos em horários definidos, traz seis coquetéis criados pelo bartender Aaron Diaz, cujo Carnaval Bar, em Lima, foi escolhido como o 13º melhor no ranking World's 50 Best Bars de 2019. Mas nada impede que você fuja do cardápio e peça um pisco sour, um bloody mary e beberique vinhos à disposição.

O almoço, assim como o jantar na volta, traz filés, peixes, acompanhamentos com curiosos ingredientes peruanos e opções vegetarianas, é claro. 

Convém não exagerar, pois ao chegar a Machu Picchu, você vai visitar as ruínas —e são muitas as escadarias. Na saída, não se esqueça de pedir o visto de Machu Picchu no passaporte, brincadeira clássica do local.

No retorno, a escuridão andina à sua volta, o trem Hiram Bingham mantém o ritmo de festa, com um conjunto tocando canções ao vivo em um dos bares e estrangeiros já bem vermelhos rebolando no centro da roda.

O clima do outro lado da composição, silenciosa e com iluminação bruxuleante, lembra um livro de Agatha Christie, provavelmente "Assassinato no Expresso Oriente". E é só isso que fica faltando para a viagem ser 100%: uma morte com uma adaga no coração e Hercule Poirot cofiando os bigodes. 
 

O jornalista viajou a convite da rede Belmond

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