Descrição de chapéu Descubra sãopaulo 2020

Russos, lituanos e croatas preservam história do leste europeu na zona leste

Centros culturais fundados por imigrantes promovem festivais, danças e jogos

São Paulo

Na zona leste de São Paulo, a coisa está meio russa —com dois “s” mesmo. Reduto de imigrantes italianos, que se estabeleceram principalmente no bairro da Mooca, a região também foi a nova casa de russos, croatas, búlgaros, lituanos, entre outros. Lá, eles fundaram clubes e associações culturais que ajudam a contar essa história.

Grande parte deles foi morar na Vila Zelina, bairro conhecido como leste europeu paulistano. Eles começaram a migrar para a região em 1927, quando Carlos Corkisko, um imigrante russo, vendeu lotes no local. O ponto era estratégico: próximo da antiga Hospedaria dos Imigrantes, onde hoje fica o Museu da Imigração, e da Paróquia da Santíssima Trindade, uma das primeiras igrejas ortodoxas russas de São Paulo, construída em 1930 na Vila Alpina.

“Esses fatores facilitavam o encontro da comunidade na região. De certa forma, funciona assim até hoje”, diz a pesquisadora Vera Gers, conselheira da rede Espaço Sem Fronteiras, que trabalha em defesa da população migrante.

Atualmente, alguns desses encontros acontecem em eventos organizados pela Associação Cultural Grupo Volga de Folclore Russo. Criada em 1981 por descendentes de russos, o centro não tem sede fixa e muitas atividades são realizadas nas casas dos associados, que moram principalmente na Vila Zelina.

A associação organiza apresentações de danças folclóricas, workshop de culinária, oficinas de idioma e palestras. As atividades são gratuitas e abertas a todo o público, mediante agendamento.

“Temos de manter e perpetuar nossas tradições. Há forte miscigenação cultural no Brasil, e se um russo se casa com um italiano, por exemplo, nossa cultura pode se perder pelo caminho”, diz Tamara Dimitrov, 58, uma das fundadoras.

Filha de russos, Dimitrov nasceu no Brasil, mas aprendeu a falar russo em casa, antes mesmo do português. Ela criou a associação inicialmente como um grupo de dança porque na época o país não tinha representatividade em eventos culturais relacionados à imigração.

Segundo ela, a associação dá continuidade ao trabalho do antigo grupo de dança Kalinka, que foi extinto durante a ditadura militar, em 1975, após ter suas atividades associadas ao comunismo. 

Atualmente, o Grupo Volga tem 150 membros. Em 2009, foi aceito como entidade vinculada ao Conselho Internacional de Compatriotas Russos, com sede em Moscou. 

O interesse pela associação vem aumentando, de acordo com Dimitrov. Ela diz que a boa impressão deixada pela Copa do Mundo da Rússia, em 2018, ajudou a chamar atenção, além de eventos que contam a cultura do país, como a mostra de cinema russo e soviético em São Paulo, que no ano passado teve a sua sexta edição.

O estudante de engenharia química Matheus Jorge, 19, entrou no Volga em 2018. Ele conta que seus bisavós vieram para o Brasil fugindo da Guerra Civil Russa (1917-1922). O jovem dá aulas de russo de forma voluntária e participa do grupo de dança folclórica. Antes mesmo de participar da instituição, ele aprendeu o prisyadka, passo em que os dançarinos se agacham repetidas vezes.

“Ao ter contato com a cultura russa, consigo voltar às origens e aprender sobre a história da minha família e, consequentemente, sobre a minha própria história. É um lugar onde eu me encontrei e que me faz feliz”, afirma Matheus.

Com colegas da associação, Matheus descobriu que muitos dos russos que imigraram para o Brasil passaram pela Lituânia. Desconfia que seus bisavós fizeram esse caminho. “Eles mudavam de nome porque os lituanos em sua maioria eram católicos, não ortodoxos como os russos. Assim eram aceitos mais facilmente no Brasil”, diz.

Segundo a associação Aliança Lituano Brasileira Sajunga, 24,1 mil imigrantes lituanos desembarcaram no Brasil de 1923 a 1932. A maior parte deixou o país nesse período por causa da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e de guerras pela independência do país (1918-1920). 

“Nossa associação tem papel histórico. Já fizemos, por exemplo, vaquinha para enviar aspirina à Lituânia em tempos conturbados”, diz Ido Klieger, 67, presidente da entidade. “Também já recebemos na nossa sede embaixadores e ministros lituanos”.

A associação fica na rua Lituânia, no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo. Oferece aulas de idioma lituano, danças folclóricas e eventos gastronômicos com pratos típicos e possui biblioteca. A Sajunga tem aproximadamente 400 associados, que pagam anuidade de R$ 50.

A imigração croata na década de 1920 também foi motivada pela crise e pela fome, segundo Boris Franulovich, 34, diretor-executivo da Sociedade Amigos da Dalmácia.

Os imigrantes fundaram a associação em 1959. Hoje a entidade tem cerca de 400 associados e promove palestras, eventos e orienta pessoas em processos de cidadania. Também promove partidas de futebol de botão com o objetivo de unir as gerações novas com as mais velhas. Para entrar na associação, todos precisam pagar R$ 600 no primeiro ano e R$ 200 nos anos seguintes.

“Mais do que uma associação, a entidade é um centro de conhecimento”, diz  Franulovich.

Associação Cultural Grupo Volga de Folclore Russo
Fundada em 1981 inicialmente como grupo de dança. Hoje promove ensaios e apresentações de coral e danças folclóricas, workshops de culinária, oficinas de idioma e palestras com temas relacionados ao país. As atividades são gratuitas e abertas ao público, mediante agendamento.
A associação não tem sede. Os eventos são gratuitos e acontecem em locais cedidos por parceiros. Ensaios obrigatórios. Tel. 99789-6242 e 97347-7474. Dom.: 14h às 17h.

Aliança Lituano Brasileira Sajunga
Fundada em 1931 por imigrantes lituanos com o objetivo de auxiliar a adaptação de recém-chegados ao Brasil. Tem aproximadamente 400 associados. Principais atividades: aula de lituano, festas comemorativas, dança folclórica, coral e eventos gastronômicos com pratos típicos. O espaço é aberto ao público e conta com uma biblioteca. Programação no site sajunga.com.br.
R. Lituânia, 67, Mooca, tel. 99146-9164. Associados pagam anuidade de R$ 50.

Sociedade Amigos da Dalmácia
Associação fundada em 1959 por imigrantes que chegaram ao Brasil principalmente da ilha de Korcula, na Croácia.Principais atividades: dança folclórica, palestras, prática de futebol de botão, ensaio de grupo musical, eventos gastronômicos, aula do idioma croata e orientações para processo de cidadania. Informações no site comunidadecroata.com.br.
R. Tobias Barreto, 454, Mooca, tel. 96672-1250. Seg. a sex.: 8h às 10h. Visita para não associado mediante agendamento. Associados pagam R$ 600 no primeiro ano e R$ 200 nos seguintes.

Outras associações

Sociedade Filarmônica Lyra
Criada em 1884 por alemães, tem grupos de dança folclórica e sapateado tirolês, concertos dominicais, exibição de filmes, festa da cerveja e almoços dançantes. É aberta ao público. Programação no site lyra.org.br.
R. Otávio Tarquínio de Souza, 848, Campo Belo, tel. 5041-2628 e 5093-6327. Seg. a sex.: 10h às 16h. Associados pagam mensalidade de R$ 75 (individual) ou R$ 90 (familiar).

Circolo Italiano San Paolo
Fundado em 1911, oferece curso de italiano e de história da arte e abriga um restaurante. Informações no site circoloitaliano.com.br.
Av. Ipiranga, 344 (ed. Itália), tel. 3154-2900. Seg. a dom.: 9h às 21h. Restaurante: todos os dias, das 12h às 15h30. Associados pagam por mês R$ 100 (individual) ou R$ 120 (familiar).

Clube Escandinavo
Criado há 128 anos, se vende como o clube escandinavo mais antigo do mundo fora da Escandinávia. Principais atividades: prática de jazz e do jogo de dados balut. Abriga restaurante. Em novembro, organiza uma feira. Aberto ao público. Informações no site associacaoescandinava.org.br.
R. Morais de Barros, 1.009, Campo Belo, tel.  5044-9128. Seg. a sex.: 10h às 16h. Associados pagam anuidade a partir de R$ 200.

Croatia Sacra Paulistana
Associação croata criada em 1951 por croatas favoráveis à independência da Croácia. Aberto a todo o público. Principais atividades: orientação para processos de cidadania, intercâmbio ou curso na Croácia; refeições com pratos típicos; aula de idioma, cultura e de história croata.
Av. General Valdomiro de Lima, 650, Jabaquara, zona sul, tel (11) 5017-2124. Sab. e dom das 8h às 15h. Atividades a partir de R$ 20.

Centro Cultural Coreano
Fundado em 2013 para divulgar a cultura sul-coreana no Brasil, oferece aulas de idioma coreano, cultura e culinária coreana, artesanato, taekwondo, k-dance (estilo de música gênero musical que compreende dança, música eletrônica, electropop, rap, hip hop, rock e R&B originários da Coreia do Sul). Informações no site brazil.korean-culture.org/pt
Av. Paulista, 460, Bela Vista, região central, tel. (11) 2893-1098. Seg. a sab. das 10 às 19h. Fecha domingos e feriados. Gratuito

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