Sim, robôs que falam chinês, inglês e coreano vão ajudar —ou ao menos divertir— turistas nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no próximo ano.
Micro-ônibus autônomos circularão pela Vila Olímpica, máquinas animadas trarão comida e bebida a cadeirantes e sensores vão reconhecer em menos de um segundo o rosto dos cerca de 300 mil atletas, técnicos e assistentes.
Não vão faltar arranha-céus cintilantes, são oito as novas arenas esportivas e já estão anunciados protótipos de novas tecnologias, como o Maglev, trem que flutua sobre trilhos a mais de 500 km/h.
Cápsulas lançadas ao espaço por minissatélites riscarão o céu em várias cores ao atingir a atmosfera, como estrelas cadentes, deixando a queima de fogos no passado.
Tudo isso é truque velho para o Japão: faz mais de meio século que o país obteve o apelido de “ficção científica” para sua primeira Olimpíada, em 1964, quando computadores foram usados pela primeira vez, satélite permitiu transmissão inédita pela TV e o trem-bala Shinkansen foi a Kyoto e voltou em velocidade recorde.
Se era exuberância a marca do ginásio Yoyogi, um dos símbolos de 1964, a palavra-chave de 2020 é integração.
Assinado por um dos mais famosos arquitetos japoneses, Kengo Kuma, o novo estádio nacional foi projetado com a menor altura possível, para ser absorvido pelos jardins do Santuário Meiji das redondezas.
O legado de Tóquio-2020 é menos vistoso, mas tem a ambição de ser mais poderoso.
São reciclados o ouro, a prata e o bronze das mais de 5.000 medalhas do evento, forjadas a partir de 6 milhões de celulares, câmeras, videogames e computadores recolhidos em todo o país.
Também são reprocessados os tecidos do guarda-roupa dos atletas para as cerimônias de abertura, de pódio e de encerramento.
Mais de 100 quilômetros de ruas (incluindo o trajeto da maratona) serão recapeados com material que reduz em até 8 graus centígrados a temperatura, em antecipação às previsões de um dos verões mais quentes na cidade (em 2018, registrou-se um pico recorde de quase 42ºC).
Os organizadores prometem uma Olimpíada movida a energia renovável —solar, eólica e de hidrogênio—, e cursos d’água que em 1964 foram cobertos por avenidas estão sendo redescobertos e ajardinados.
A estratégia estava traçada desde 2016, quando a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, veio ao Brasil para o encerramento dos Jogos do Rio. Em entrevista à Folha, ela disse que a meta era fazer da capital japonesa uma cidade acessível não só no aspecto físico, mas também no abstrato.
Desde então, o governo instalou escadas rolantes no metrô, alargou passagens, instalou informações em inglês e espalhou pelas avenidas flâmulas olímpicas com a frase “Unidade na Diversidade”.
Mas a segunda parte do slogan ainda não está garantida. A poucos meses da abertura dos Jogos, Tóquio corre para encontrar soluções contra a forte alta dos preços de hospedagem, que pode afastar turistas.
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