A imagem do Brasil de Jair Bolsonaro, apesar das queimadas na Amazônia, atravessou o primeiro ano de governo com aprovação de pelo menos um grupo, no mundo.
“O presidente parece ter mantido forte apoio da comunidade empresarial internacional, como resultado dos avanços legislativos em questões-chave como a reforma das aposentadorias”, avalia Cynthia J. Arnson, diretora do Programa Latino-Americano do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington.
Vale para EUA e Europa e também para os emergentes. Os primeiros sinais de melhora terão efeito positivo “para os que enxergam o Brasil só em termos de performance econômica”, diz Oliver Stuenkel, professor da FGV e autor de “O Mundo Pós-Ocidental: Potências Emergentes e a Nova Ordem Global” (Zahar, 2018).
“Sobretudo a China, um país que é muito pragmático e onde houver a chance de bons negócios, eles vão fazer”, acrescenta Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores nos governos Lula e Itamar Franco —e um dos articuladores a partir de 2006 do grupo Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Para Stuenkel, “é importante lembrar que a imagem do Brasil depende de onde você está: no Ocidente, piorou bastante; na Ásia, menos”. Mas Bolsonaro vai a Índia e Rússia em 2020 e também neles há sinais de reação, por exemplo, às ameaças ambientais ou ao privilégio dado aos EUA. “Minha avaliação vem de conversas com russos, chineses e indianos”, diz.
De forma geral, sublinha Amorim, “o problema de imagem junto a esses países é de credibilidade, porque o Brasil fala uma coisa e faz outra”. No caso da China, Bolsonaro “falou mal e depois foi fazer comércio, pedir para investir no pré-sal”, e nada garante que não mude novamente, “no outro sentido”.
Autor de “Brazil, um País do Presente: A Imagem Internacional do ‘País do Futuro’” (Alameda, 2017), Daniel Buarque vem ouvindo diplomatas, acadêmicos, jornalistas e outros voltados à política externa nos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) para seu doutorado sobre a projeção do Brasil, no King’s College London.
“O tempo todo se fala que com Bolsonaro é impossível saber o que o Brasil quer”, diz. “Este foi um ano de destruir tudo o que foi construído por décadas. Mesmo na ditadura não se tomaram atitudes tão radicalmente contra o que, desde Rio Branco, foi consolidado como postura internacional do país.”
Buarque, que publica o blog Brasilianismo no UOL, concorda que existem aqueles só interessados na economia, citando o Wall Street Journal. Mas até na imprensa financeira ocidental há diferenças, por exemplo, quanto às reformas, “muitas vezes vistas como algo feito pela Câmara, não pelo governo Bolsonaro”.
A projeção do país vem se desfazendo em muitas frentes, mas a maior é a Amazônia, onde “as políticas de Bolsonaro corroeram a posição do Brasil na comunidade internacional”, diz Cynthia Arnson. “O fracasso do país em interromper a destruição se tornará cada vez mais central à sua imagem.”
Até no tema da corrupção, sublinha a diretora de América Latina do Wilson Center, “a reputação se corroeu, não só como resultado das conversas vazadas indicando que a acusação de Lula era politicamente motivada, mas pelas ações de pessoas próximas a Bolsonaro, inclusive sua própria família”.
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