Descrição de chapéu Análise Cenários 2019-2020

Imune a vexames, Donald Trump caminha para reeleição nos EUA

É possível que o presidente perca votos por causa de escândalos, mas ganhe no colégio eleitoral

“Eu posso ir para o meio da Quinta Avenida em Nova York e atirar em alguém, e mesmo assim não vou perder nenhum eleitor.”

Donald Trump disse isso em plena campanha, em janeiro de 2016, e foi ridicularizado. Seus concorrentes duvidavam que o espalhafatoso empresário e apresentador de reality show vencesse as primárias do Partido Republicano. Em outubro daquele ano, quando já havia derrotado os outros republicanos e concorria com a democrata Hillary Clinton à presidência, ele provou que sua declaração não era tão absurda assim.

Em gravação vazada a um mês da eleição, Trump se vangloriava para um apresentador de TV de suas façanhas sexuais. “Quando você é uma estrela, você pode fazer o que quiser... agarrar as mulheres pela vagina...”

Ele ainda saiu vencedor.

Em seu mandato, passou por meses de investigação sobre sua suposta conivência com a tentativa da Rússia de interferir nas eleições. De novo, nada aconteceu. Portanto, para muitos observadores, não é um mero impeachment que vai tirá-lo da presidência.

A Câmara dos Deputados dos EUA, controlada por democratas, abriu o processo em setembro, após revelações de que Trump pressionou o presidente da Ucrânia a investigar o democrata Joe Biden, seu potencial adversário. Os depoimentos, até agora, corroboram as acusações. Mas, para Trump ser afastado, precisaria ser condenado por dois terços do Senado, controlado por republicanos. E os senadores republicanos não dão sinal de que podem virar a casaca.

Talvez porque o país siga polarizado

Oito de dez democratas apoiam o impeachment, e oito de dez republicanos rejeitam. Os democratas sabem que é impossível o Senado votar a favor. Mas confiam na condenação de Trump no tribunal dos eleitores.

O presidente americano está a um ano de uma eleição. A aposta dos democratas é que, ao longo das investigações, emergirão informações e detalhes tão negativos que irão custar a ele muitos votos.

Trata-se de aposta arriscada. Seus eleitores fiéis não mudam de opinião diante de um simples escândalo. E o mapa eleitoral beneficia Trump. Em 2016, Hillary teve 2,9 milhões de votos a mais que ele, e mesmo assim perdeu no colégio eleitoral. No sistema americano, cada estado corresponde a certo número de votos, o que confere a alguns peso grande na decisão.

Na eleição do ano que vem, esse punhado de estados-pêndulo, que às vezes votam em democratas, às vezes em republicanos, serão de novo decisivos. É possível que Trump perca por até 5 milhões de votos em 2020 e, mesmo assim, ganhe no colégio eleitoral.

Se a economia americana não despencar, parece que o atual presidente americano continuará imune a escândalos. 

Patrícia Campos Mello é repórter especial

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