A preparação da primeira disputa eleitoral na maior cidade do país após o furacão que varreu a política tradicional em 2018 se dá, até o momento, sob o signo do imponderável.
O estado da coisa é o seguinte: candidato à reeleição, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), trava dura batalha contra um câncer agressivo, mas segue articulando alianças em torno de seu nome.
O PT, protagonista dos embates na cidade nos últimos 30 anos, ainda não é capaz nem sequer de apontar quem será seu candidato —ao menos três integrantes do partido foram chamados e recusaram, inclusive o favorito de Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad.
A sigla que emergiu das urnas em 2018, o PSL, perdeu seu maior garoto-propaganda, o presidente Jair Bolsonaro, que, no momento, não tem um partido para chamar de seu.
A fragmentação das forças à direita e à esquerda estimulou partidos antes tidos como satélites a tentarem um voo solo.
Enquanto o PT patina, o PSB articula a candidatura de Márcio França (PSB), que teve votação expressiva na capital paulista quando enfrentou o governador João Doria (PSDB) no segundo turno de 2018.
França busca apoio de siglas como o PDT, mirando tempo de TV que possa mantê-lo competitivo. Uma ala do PT defende que o partido o apoie em prol da união da esquerda caso não ache um nome forte para a tarefa, mas Lula rechaça a tese e tenta convencer Haddad a se lançar na empreitada. O PSOL flerta com chapa composta pela jovem Sâmia Bomfim e a veterana Luiza Erundina.
Covas conta com o apoio de 12 partidos para disputar a reeleição, mas essa situação é delicada. A doença, personagem infeliz e indissociável desta corrida, acometeu o jovem prefeito, mas também catapultou sua exposição. Em sondagens recentes, bancadas por partidos que pretendem disputar, as menções ao nome dele explodiram desde que seu calvário foi descoberto e exposto.
O governador João Doria tenta empurrar Covas e seu partido para uma aliança com Joice Hasselmann (PSL), deputada de mais de 1 milhão de votos em 2018 ao lado de Bolsonaro, mas que rompeu com o presidente e tem hoje o capital político questionado.
A opção que começa a deslanchar no PSDB é a de montar uma chapa puro-sangue, com Covas à frente e um outro integrante do partido de vice.
Há, ainda, a possibilidade de Bolsonaro e o bolsonarismo se alinharem a um forasteiro da política, como o apresentador José Luiz Datena, que, para não fugir ao que parece ser a regra da cena pré-eleitoral, ainda não decidiu se quer ou não ser candidato.
Nenhuma das forças que centralizaram o embate político na cidade desde a redemocratização, portanto, chega às portas de 2020 com uma opção segura. A sorte está lançada.
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