Descrição de chapéu Fim de ano

Zeca Camargo: 'Na Ásia, descubro novos significados para o luxo'

São detalhes como massagem nas pernas, guirlanda de flores e cheiro de capim-santo que valem a viagem

Zeca Camargo

Nem de longe aquela era uma viagem de luxo. Na minha primeira vez no Sudeste Asiático, meu objetivo prioritário era conhecer o Vietnã: seriam duas semanas só lá, que incluíam até um trecho de bicicleta nos arredores de Danang.

Já que estava na região, considerei Bancoc —hoje uma das minhas cidades favoritas no mundo!— apenas como uma escala (uma falha que logo tratei de corrigir). Mas fiz questão de colocar o Camboja no roteiro, para contabilizar mais um país.

Monge no templo de Angkor Wat, na cidade de Siem Reap, no Camboja
Monge no templo de Angkor Wat, na cidade de Siem Reap, no Camboja - Divulgação

Lá o plano era simples. Chegaria a Phnom Penh, a capital, e seguiria de barco para Siam Reap, para conhecer as maravilhas de Angkor. O barco também não era de luxo: o trajeto de quase um dia foi feito numa embarcação um pouco melhor que uma balsa.

Sorte a minha. Por horas a fio, eu observava as margens do imenso Tonle Sap, que muitas vezes eu perdia de vista, como se a gente estivesse cruzando o alto-mar. E eventualmente conversava com outros passageiros, entre eles, uma dupla de jornalistas ingleses, ali fazendo uma matéria.

Chegando a Siam Reap, fui refrescar no modesto L’Auberge d’Angkor, onde o banho era conhecido como “estilo khmer”, numa referência à tradicional cultura local —um eufemismo para descrever uma grande vaso de barro com água e uma cuia.

A dupla de jornalistas, no entanto, estava hospedada com estilo: no Amansara, a base da luxuosa rede Aman no Camboja, onde jantamos no primeiro dia. Instalado na antiga residência de verão do príncipe Sihanouk, o hotel é uma moderna casa dos anos 1960 totalmente transformada. Um choque para quem até então só havia experimentado um banho de tigela...

Depois do jantar, quando já estávamos no terceiro ou quarto dry martíni, o repórter me pergunta se eu queria ir até Angkor Wat —o templo principal do complexo arqueológico, cartão-postal de Siam Reap. Respondi que era quase meia-noite, que seria impossível a gente ir lá naquela hora. Sua resposta: “Nós estamos no Aman, você pode tudo”.

Em menos de cinco minutos, três lambretas estacionavam na porta do hotel e, logo depois, chegávamos ao belíssimo templo, ainda com nossos martínis na mão. A lua cheia apareceu como uma cortesia extra, emprestando seu reflexo para o lago em frente à construção.

“Isso é luxo”, pensei. Mas cada vez que vou ao Sudeste Asiático descubro novos significados para essa palavra. Da guirlanda de flores que o Como Metropolitan coloca todas as noites na sua cama em Bancoc ao potinho de arroz que o 3 Nagas te oferece às 5h da manhã para entregar como oferenda aos monges envoltos num laranja forte em Luang Prabang, esse luxo não está no preço da diária de um Aman (ou de um Como).

Está nos detalhes.

A massagem nas pernas que não custa nem R$ 40; o suco de laranja mais maravilhoso do mundo; o perfume constante de capim-santo; uma bolinha de arroz grudento; um trajeto num tuk-tuk enlouquecido às 3h da manhã; a vista de um “sky bar”; uma caverna com mil budas...

É para experimentar de novo —e sempre— coisas assim que eu volto para essa parte do mundo todos os anos. Quem sabe um dia ainda não tomo um “banho khmer” nas águas que espelham Angkor. E com uma taça cheia de gin ao alcance da mão! Tudo é possível por lá...

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