Descrição de chapéu Fim de ano

Paisagem compensa muvuca em viagem de barco pelo Amazonas

Banheiro compartilhado, tecnobrega no último volume e redário apinhado de gente fazem parte

Belém

Longe do luxo dos transatlânticos, as viagens de barco pela Amazônia estão ganhando popularidade entre aqueles que abrem mão do conforto pela oportunidade de conhecer de perto as paisagens da selva.

A troca é justa. Vale a pena passar perrengue em uma embarcação apinhada de redes e com um motor barulhento para ter a experiência de acordar no meio do rio.

Redes em embarcação saindo do porto de Manaus (AM)
Redes em embarcação saindo do porto de Manaus (AM) - MARCIO SILVA/ACRÍTICA

Uma das rotas mais conhecidas vai de Belém do Pará a Manaus, no Amazonas, passando por Alter do Chão (PA). 

De Belém até Santarém (PA), são 700 km e quatro dias pelo rio Amazonas. A embarcação é simples: banheiro compartilhado, refeitório com bancos de madeira e um bar que toca tecnobrega no último volume.

A paisagem muda conforme a época do ano. É uma durante a época de cheia, ou vazão dos rios, de novembro a fevereiro, e outra na seca, entre outubro e novembro.

No fim de junho, acontece o Festival Folclórico de Parintins (AM). Se sua intenção não for ir à festa, vale esperar, já que a movimentação de barcos é grande nessa época.

As embarcações oferecem cabines para hospedagem, mas em geral elas não têm um bom custo-benefício. Vale dormir no redário e viver a experiência completa. A passagem para ficar no espaço custa de R$ 120 a R$ 200, dependendo da embarcação.

É preciso levar a própria rede. Isso não é problema em Belém, onde um modelo de algodão sai por menos de R$ 50. Também é preciso embarcar cedo para pegar um lugar —não que isso garanta algum conforto. 

Após instalar a rede entre dois corrimões de metal que atravessam todo o porão do barco —com janelas amplas e ar-condicionado—, centenas de pessoas farão o mesmo à direita, à esquerda, embaixo e em cima. A ideia de que sempre cabe mais um impera nos navios paraenses.

O caminho até Santarém é uma atração por si só. São horas e horas em meio à mata sem nenhum sinal de civilização, até que pequenas comunidades surgem à beira do rio. Em algumas delas, crianças se aproximam em botes para vender peixe e frutos da mata. Cada pôr do sol no convés do navio faz valer a pena as 18 horas do mesmo CD de tecnobrega tocando em loop.

Santarém é uma das maiores cidades do Pará, mas não é lá que está a joia do rio. Alter do Chão, a cerca de 40 km, já foi chamada de “Caribe brasileiro” por suas praias de água doce, que aparecem entre agosto e janeiro, quando o Tapajós diminui de volume.

É lá também que estão a Floresta Nacional de Tapajós (Flona), que pode ser visitada em passeios de barco oferecidos por agências na cidade, bem como praias mais distantes e comunidades extrativistas.

O segundo trecho da viagem é mais curto. De Santarém até Manaus são 42 horas, quase dois dias de viagem. O ritmo é o mesmo, tecnobrega, redário e paisagens amazônicas.

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