Avesso à ostentação, o turismo de alto padrão caminha hoje à procura da simplicidade. É o chamado luxo descalço —que quer colocar os pés no chão, claro, com muito conforto e exclusividade.
Os adeptos desse estilo de viagem exploram, por exemplo, as belezas do rio Tapajós em um barquinho de madeira típico da região amazônica, mas com serviço de bordo privativo e enxoval Trousseau.
“É uma busca por emoções simples, por se conectar de verdade com o lugar, mas sem se esquecer da premissa de que luxo é excelência”, diz Gabriela Otto, especialista em turismo de luxo e professora da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Hotéis suntuosos, com dezenas de piscinas e restaurantes, sozinhos, não fazem mais a cabeça desses viajantes.
“Quem tem poder aquisitivo não se impressiona com infraestrutura cara, já está acostumado com isso”, afirma Martin Frankenberg, presidente da BLTA, associação que representa hotéis e operadoras.
O que surpreende esse público é o raro e o autêntico, nas palavras de Martin. Uma experiência que só pode ser vivida naquele lugar, a partir do contato com a natureza e com moradores —de preferência, sem outros turistas à volta.
Isso significa viajar para locais pouco explorados. Ou aproveitar os destinos famosos de um jeito diferente. Conhecer o Egito ao lado de um egiptólogo, com visitas privativas às pirâmides, por exemplo.
Uma tendência crescente são as viagens ativas e de aventura, que envolvem algum tipo de atividade física, como caminhadas, trilhas e escaladas. Mas não tem perrengue chique: ao fim do percurso, o viajante encontrará uma mesa com frutas e os melhores vinhos esperando por ele.
É como ser um mochileiro, só que com mais glamour.
“Ele gosta de se sentir um Indiana Jones de dia, desde que tenha todo o conforto à noite”, diz Martin.
E cada vez menos esse viajante quer ficar em uma hospedagem convencional. No mercado de luxo, o aluguel de casas por temporada também está em alta, com a diferença que inclui todos os serviços de hotel particular —limpeza, arrumação, compras e cardápio personalizado.
Agências voltadas para o público AAA ajudam esse turista a customizar sua viagem nos mínimos detalhes.
“Nosso cliente não pode errar no seu tempo livre com a família”, diz Gabriela Figueiredo, diretora da Matueté, a mesma que opera o barquinho no rio Tapajós.
A empresa cobra uma taxa de R$ 1.500 para atender um novo cliente. Isso porque faz uma entrevista detalhada com ele para entender quais são seus gostos e necessidades, para só aí desenhar o roteiro adequado para o seu perfil.
O turista não precisa se preocupar com reservas ou transporte. Por um aplicativo, ele consegue acompanhar toda a programação, com endereços e mapas, e ainda pode conversar por um chat com o consultor que organizou a viagem.
Já a Selections parou de aceitar novos clientes, a não ser que cheguem por indicação. O site da agência só pode ser acessado com uma senha, e não há telefone para contato visível ao público.
Com pouco menos de 500 viajantes cadastrados, a operadora chegou à capacidade máxima, de acordo com o diretor, Eduardo Gaz. O segredo do sucesso nesse segmento, diz ele, é conhecer bem cada turista e antecipar suas vontades.
Ele não revela valores. "Essa não é a principal preocupação dos nossos clientes, mas eles também não querem pagar a mais do que os serviços custam", diz.
Gabriela Figueiredo, da Matueté, calcula que nesse estilo de luxo descalço a pessoa gasta em média US$ 1.000 por noite, sem contar passagens. "Mas o céu é o limite."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.