Primeira mulher eleita Melhor Chef do ano, Telma Shiraishi tem trajetória pioneira

Júri - Chef do ano

Marília Miragaia
São Paulo

Ela é uma pioneira. Foi a primeira de sua geração, a primogênita entre os netos de uma família de imigrantes japoneses. A primeira mulher no Brasil a receber o título de embaixadora da culinária nipônica. E também a única cozinheira já eleita a melhor chef do ano por este especial. Com vocês, Telma Shiraishi, 49.

Nada disso, porém, estava escrito nas estrelas, aquelas que ela observava do quintal da casa dos pais em Paraibuna, em São Paulo —onde viu passar o cometa Halley e estudava constelações com uma luneta.

A infância seguiu esse compasso, tocando piano, debruçada em livros, mas também menina solta, que colecionava insetos e tomava leite recém-tirado da vaca. Completados os 17 anos, a neta mais velha da família (que trabalhou duro para que ela pudesse estudar) foi aprovada no curso de medicina da USP.

Mas a tão esperada médica não se formou. Foi viver a ebulição de uma São Paulo Fashion Week nos anos 1990. Conheceu Gisele Bündchen ainda garota, agarrada no ursinho, antes de se tornar supermodelo. Trabalhou em eventos com o estilista Fause Haten e “era uma daquelas pessoas excêntricas que os pedestres olham torto na rua”.

No meio de tudo isso, um gosto foi se apurando. Gosto por eventos, pela cozinha e por criar momentos de felicidade com ela. Abriu o restaurante Aizomê ao lado do chef Shin Koike. Mas, em alguns anos, viu-se sozinha.

Seus sentidos foram colocados à prova. Não era só o fato de ser mulher, mas de não ser japonesa (e, ao mesmo tempo, nem brasileira). Para aprender os códigos de uma cozinha com tamanha identidade, teve de traduzir aquele mundo para si.

No trabalho de decifrá-lo, foi se aperfeiçoando. Soube manter e expandir a clientela. Aprofundou o trabalho com matéria-prima e chegou à sofisticação de sua cozinha: que mostra, com um jeito próprio, como pode ser intensa a sutileza de cada ingrediente.

Hoje, apesar do Aizomê não ter placa na rua, deu cria na Japan House, centro de cultura que veio mostrar o Japão moderno na cidade onde se conhece sua tradição. Uma tarefa para a primeira de sua geração. 
Uma história que ninguém anteveria.

Restaurantes

Aizomê

Japonesa |
até R$90.2

Feito que não é muito comum, aqui é uma mulher, a chef Telma Shiraishi, a comandante da cozinha japonesa. Há 12 anos no mesmo endereço, o sobrado que abriga a cozinha tem balcão e salas reservadas. O omakassê (R$ 210, sete etapas) se equilibra entre receitas quentes e frias, com pratos como o tempurá de uni em folha de shisô e o de raíz de lótus recheada com camarão. As sobremesas, assinadas em parceria entre a gelatière Marcia Garbin e o confeiteiro Cesar Yukio, acompanham o trabalho minucioso da casa, a exemplo da torta de limão japonês (yuzu) com merengue e frutas frescas (R$ 24).

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.