Se para alguns o fim de ano significa panetone, para Lia Goes, 45, uma das fundadoras da Cooperapas (Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo), é época de melancia. A lembrança da família, que colhia a fruta em dezembro, continua viva.
Na década de 1990, ela foi a mulher a encabeçar a produção de orgânicos em Parelheiros, bairro a cerca de 45 km do centro, considerado zona rural. Hoje, entre os 40 clientes, estão os chefs estrelados Paola Carosella (Arturito) e Alex Atala (D.O.M.).
Há outros 600 na lista de espera: são apenas 39 agricultores dedicados a um sistema de plantio cheio de regras, lento e caro. Por ano, são colhidas cerca de 70 variedades e 50 toneladas de comida.
Desde criança na barra da saia da mãe, descendente de índios e holandeses fazendeiros, Lia prestava atenção nas receitas para combater fungos e pragas que castigavam o sítio. É batata: até hoje, para dar fim às formigas, basta o sumo da folha de mamão; para os fungos, uma solução de carvão fervido.
Sempre gostou de coisas novas e, na adolescência, ficou encantada pelos computadores, e se enveredou pela ciência e tecnologia. Seus amigos, assim como ela, preparavam-se para continuar os estudos e sair da roça.
Foi quando percebeu que o futuro estava ali, na terra. “Aqui em São Paulo, a agricultura não era valorizada”, diz. Incentivada pela mãe, começou a se articular com produtores para viabilizar a agroecologia na região.
A computação segue ao seu lado, ajudando os cooperados com planilhas de plantio. Entre taiobas, acelgas-chinesas e jilós, Lia luta para manter a alma rural do extremo sul de São Paulo pulsando.
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